(P) – No livro Luz imperecível fala sobre a tentação, sobre o deserto; e que João Batista pregava no deserto. Fala que o deserto é esse estado íntimo onde a gente ainda está carente. Agora, aqui, está dizendo que essa mulher foi para o deserto, ao seu lugar. O deserto não seria um lugar provisório para depois passar para um lugar melhor? Aqui está falando que o deserto é o lugar dela.
(H) – Claro que está. Já está dito aqui atrás. “A mulher fugiu para o deserto onde já tinha lugar preparado por Deus” (Apocalipse 12:6). É um deserto especial.
(P) – De reflexões.
(H) – Exato! E é preciso encarar esse deserto! Se vocês não encararam ainda, estão perdendo tempo! Esse deserto, sabe o que é que é, Braz? É a casa cheia de filhos. É aquele campo de trabalho com as incompreensões, com as dificuldades. Você olha assim – Eu não sei o que estou fazendo aqui! – vê logo que o mundo é outro, não é? Então vamos ter em conta este aspecto. Tem muita gente assim, toda hora conversam conosco aqui. Não é isso Lenice? Às vezes, a gente está atendendo aqui, e outros que atendem conosco – Eu vivo no meio de um monte de gente, mas estou num verdadeiro deserto, porque ninguém me entende e eu não entendo ninguém. – Não é isso? Não entende mesmo! A gente sente que está deslocado ali dentro. Quantos casos aí os nossos companheiros da área de psicologia estão enfrentando com solidão, pessoas angustiosas, ou angustiadas, atrás de uma segurança – Mas você tem família? – Tenho! Mas não adianta! A família tem hora que dá mais tristeza, ainda. – quer dizer, são aspectos que…
(P) – Essa mulher, aí que fugiu para o deserto, ela não bate mais com essa multidão.
(H) – Essa mulher ela sofre até o momento que ela descobre que está aqui para alguma coisa. Entendem? Na hora que ela descobre que está aqui para alguma coisa, ela começa a entender tudo em volta, até as pedras aguçadas machucando os pés, ela passa a entender. E parte para o trabalho.
(P) – Então aquele que está no lar, que não está entendendo, e tal, ela tem que ficar atento, …
(H) – Exatamente.
(P) – Não estou entendendo nada! Então o grande desafio seu, é trabalhar, abrir seus horizontes, sua consciência para você entender esse mundo que você não está entendendo nada, porque tem que entender.
(H) – Ou seja, é o chamamento de um novo despertar da criatura. É um novo despertar. Para muitos, o despertar da consciência foi o ápice da evolução, para nós o que era ápice passou a ser o princípio, o pé do morro, da subida. Para que nós possamos compreender que o despertar é de outra ordem, de outra natureza.
(P) – Eu estou querendo entender a simbologia dessa mulher aí… do deserto …
(H) – Neste caso, Olinda, quantos sentimentos você possui que te colocam como sendo a maior benfeitora do mundo? Não te passa isso de vez em quando? Não para ser a maior do mundo, mas para manifestar, gostaria de ajudar para fazer isso. Isto são estímulos, são valores que estão nascendo no seu psiquismo. Agora, o que acontece? Às vezes, é preciso que nós sejamos deslocados do campo constante de nossa vida, para que a gente tenha onde aplicar esses padrões já nascidos do nosso psiquismo. É esse o sentido do nosso voo. Não se consegue sem determinadas alterações, sem determinados deslocamentos, conseguir levar para o concreto o plano subjetivo que nos visita o entendimento. Quantas pessoas estão aí em áreas profissionais, até diferentes daquelas que ele propunha lá atrás? É o deserto, mas é ali que ele vai ter o campo aberto para operar na organização de sua própria estrutura num novo mundo, numa nova postura. Tanto que a América é chamada o Novo Mundo, definindo simbolicamente, isto. Então, nasce o filho. Agora “tragar” significa o seguinte: seria levar a criatura a não ter condições mais de pensar aquilo, aliená-la, mas em vez de alienar a mulher, deu asas à mulher, para que a mulher pudesse gerenciar, no plano construtivo, os padrões que ela já apresenta no plano psíquico ou mental. É esse, o sentido. Primeiro vem a linha mental, você está lendo um livro gostoso, quanta coisa passa na nossa cabeça! Já está havendo um fluxo normal de ideais, de propostas. Se nós alimentamos e realimentamos essa carga mental daí a pouco nós estamos deixando vir à tona o que? O nascimento de uma nova personalidade, na sua estrutura, no seu desenho, no seu esboço. Perceberam? Está esboçado. Agora para produzir é preciso que ela saia das vistas do dragão, para trabalhar. Às vezes, nós temos que trabalhar fazendo campanha do quilo com um punhado de necessitados que vão receber o alimento que, nós nem sabemos quem é ele, para poder aprender a doar vários alimentos àqueles que estão mais próximos da gente, no campo da desvinculação dos liames do passado. Então, o assunto, não é fácil, realmente, não! Ele exige de nossa parte um certo carinho no campo da apreciação.
(P) – Só para ilustrar, em 56, no Natal, um sujeito estava sozinho em casa. A família toda saiu. Ele começou a ficar meio entristecido. O recurso que ele buscou foi orar para que todos os familiares tivessem um bom Natal. Nesse momento ele viu uma cena das cercanias de Matosinhos, onde tinha um casal, com uma mãe e uma filha e viviam em muita penúria. Aí ele teve o ímpeto de levar um carinho, um Feliz Natal para eles. Pegou alguns recursos, um pedaço de carne, balas, etc. e quando ele vai se aproximando, sozinho, da casa, ele vê aquele barracão todo iluminado, com um gerenciamento de Eurípides Barsanulfo, que disse para ele: – Que bom que você veio, nós vamos oferecer o Natal com Jesus, para esses corações. Ele contava isso como o Natal mais importante que ele passou na vida dele. Então, eu estou ouvindo esse bloco da mulher que, de repente, tem lugar preparado, entende, vai e opera em novas bases.
(H) – Sem dúvida. Para que a gente possa clarear um pouquinho mais eu vou tentar fazer um esquema, dentro daquilo que a Olinda está apresentando, como um desafio para percepção.
Aqui está, como eu gosto de fazer sempre, o nosso alcance, nosso laboratório vem até aqui[no quadro], nesse terreno. Quando a gente tem uma ideia, que vai e coloca imediatamente essa ideia à frente, a gente acha que foi uma ideia nova. Não, às vezes, a manipulação… aqui eu tenho os lances, a flor na minha linha mental que estão com os periscópios na mão enxergando. Aqui está um bloco de orientações chegando aqui, fertilizando o campo mental da gente, aqui embaixo. O que ocorre? Aí eu dou o lance no campo mental. Eu tenho que fazer isso. Isso é bom. Aí, eu venho até aqui e volto. Daí a pouco outro lance. Amadureceu. Tudo no campo mental, porque a minha vida está aqui dentro ó. É aqui que é a minha vida. Aqui é meu paraíso mental. Ficou claro? Paraíso mental. Então, aqui, eu tenho um nascimento de natureza psíquica, o nascimento do interesse, do desejo, e da vontade que vai ser amadurecido. Daqui, com esses lances, com essas projeções, eu vivo tempo, tempos e metade de um tempo, ou 1260 dias. Chegou aqui. Quando esse período, que eu vou chamar de causa, foi vivido, esse período pode ser de tempo, pode ser de condições, de experiência, de valores. Não vamos colocar tempo no seu sentido fechado não! Não quer dizer que eu tenha de estar 1260 anos aqui pensando, pensando o que faria e o que não faria, não! Mas eu dei campo, aqui. Quando eu estou e já venci esse período causal dos lances mentais, em que eu sou um submarino, aqui dentro. Eu pego o periscópio e olho lá em cima e vejo praia ali, e vejo floresta numa outra ilha. Mas não chego. Por enquanto é só observação. Aqui fala o verbo ver, mas, chega o momento do entrar. O que é isso? É a consolidação, no campo prático, dos lances mentais dos desejos instaurados. Perceberam? Agora, o campo operacional desses desejos não pode ser trabalhado de maneira irrefletida ou meio mecanizado em cima desse grupo, porque, quando Jesus atendia um paralítico, atendia um cego, esses elementos saiam de onde? Da multidão. Mas a multidão? Deixa a multidão como ela está. Ficou claro? É mudança de contingente agregador. O nosso contingente é esse, embora não esteja laborando este. Ora, este está aqui! Então, primeiro, a conquista de ordem mental, depois a conquista de ordem concreta! Então, esta ordem concreta, vai ter o mesmo espaço, o mesmo tempo, a mesma luta que eu laborei dentro de um cultivo do pensamento. Porque esse pensamento dá ideia de libertação do ser. Esse momento aqui, então esse momento aqui, é de elaboração, de planos, de vontades que não foram ainda devidamente aplicados.
Então, entre esta área e a consolidação vai exigir a presença, nesse ambiente, em que aqui já é um plano de vida para milhões de pessoas e espíritos, mas para nós ainda é um deserto, porque não tem construção minha, aí! Ficou claro? Então eu vou ficar aqui mais 1260 dias sendo alimentado aqui, alimento de que natureza? Alimento de trabalho, de aplicação. Mas quando nós já estamos incluídos aqui, o trabalho está valendo, você vai ter 1260 dias para trabalhar, para ser resguardado aí. Para o plano superior é o resguardo do ser. Para a criatura que chega aqui, é mais um dia na linha da escala de Gênesis – no primeiro dia, no segundo dia, no terceiro dia… não são anos, não! Perceberam? Que representam, realmente, esse período já mais condensado de trabalho no plano das experiências na vida física e na vida espiritual, que passa a ser o que? Tempo, tempos e metade de um tempo que vai entrar aqui no final, diz assim: “Para que voasse para o deserto, o seu lugar onde é sustentada por um tempo e tempos e metade de um tempo, fora da vista da serpente” (Apocalipse 12:6). Porque a serpente, de algum modo, representa esses valores intrínsecos dela. Na massa a pessoa não desvencilha disso porque a pressão é completa, como é que você vai desvencilhar da água dentro do fundo do mar? Tem que sair do mar, mas leva parcela do mar dentro de você.
(P) – Sr. Honório, tempo e tempos e metade do tempo merecia um paralelo com…
(H) – Sem dúvida alguma! Perfeito! Porque isso vai sempre acontecendo e reciclando, não é isso? Então, esse um tempo, e tempos e metade de um tempo, para quem está chegando hoje, seria, tempo: 360 graus, tempos 720 graus, metade de um tempo 180 que representam 1260 dias que é o plano de elaboração e o tempo de concepção. Sempre nós temos liberdade, que é a proposta é mental. O direito de liberdade é a proposta mental, que é isso aqui ó, o tempo do usufruto é a realização. Então no Egito teve o grito de liberdade do jugo egípcio. Depois teve a Diáspora. Novo momento de prisão na Babilônia pelos decretos de Nabucodonosor. Depois vem Ciro e liberta. Já tudo dentro de uma linha básica essencial que está contida em que? Está contida na promessa de Jesus. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32) Libertação! Então, aqui, eu estou tendo contato mental com a verdade. O conhecer a verdade é exercitá-la no plano aplicativo.
(Recorte das transcrições dos Estudos de Evolução coordenados por Honório Abreu, revisado.)